20 março, 2016

PROPOSTA #1: MEMÓRIA DESCRITA E JUSTIFICATIVA

Tendo como tema de trabalho a música do grupo The Black Eyed Peas, Where is the love?, elaboramos uma composição que é, no fundo, a interpretação visual do tema que escolhemos, tendo sido lavrada, seguidamente, a presente memória descritiva que contextualiza de modo detalhado as escolhas feitas, ao nível dos elementos básicos e das técnicas de comunicação visual, utilizadas na concretização gráfica e visual da proposta. 


E porque “a linguagem visual é uma linguagem, talvez mais limitada do que a falada, mas certamente mais direta.” (MUNARI, Bruno / Design e Comunicação Visual / Ed. 70, Lisboa, 1991), foi-nos proposto que criássemos, com total liberdade, uma composição considerando os elementos básicos da comunicação visual.

As duas composições que apresentamos são resultado do nosso sentido pessoal em que tomamos o que ouvimos e o que lemos da música “Where is the love?”, dos Black Eyed Peas, pelo que assumimos, desde já, a nossa inteira e exclusiva responsabilidade pelos conteúdos apresentados.

Para o processo de escolha da música, subvalorizamos as propensões musicais de cada um e optamos por preferir uma música com um caráter social sublimar. O modo como se recebe as informações, que são cada vez mais globais, transversais e rápidas e, de certa forma, a maneira como se pensa o mercado impulsionaram também a nossa escolha. 

Assim, cientes de que as componentes da arte da literatura podem ser incorporadas nas composições musicais, pesou a reflexão crítica - em nosso ver, clara - da música na escolha da mesma.

Pela sobriedade e pela intemporalidade que a música confere, consideramos, desde logo, “Where is the love?”, como uma música de protesto, não necessariamente explícito, mas visto como um gesto de discordância social e revolta interior com o que acontece no mundo.

Através de um verdadeiro processo de dissecação da letra, testemunhamos em como nos metamorfoseamos sem amor, sem o verdadeiro e genuíno amor.

A letra diz-nos:
  • que o sentido de humanidade nas sociedades modernas – cada vez mais ignorantes, egoístas (“Selfishness got us followin' in the wrong direction”) e materialistas – é cada vez menor;
  • que é inegável a falta de harmonia e sentimento no mundo, percetível no amor e respeito apenas pela nossa própria raça e no sentimento de desigualdade e crueldade para com outras (“But if you only have love for your own race / Then you only leave space to discriminate / And to discriminate only generates hate”);
  • que são visíveis os comportamentos discriminatórios, as revoltas étnicas, o terrorismo (“Overseas, yeah, we try to stop terrorism”), a guerra (“A war is going on but the reason's undercover”), e a hipocrisia;
  • que os media glorificam e dessensibilizam os jovens para a violência (“Wrong information always shown by the media / Negative images is the main criteria / Infecting the young minds faster than bactéria”);
  • entre outras;
  • que o Amor e a Paz são as soluções para os problemas do mundo, mas será que eles existem num mundo tão enlouquecido? ("So ask yourself is the loving really gone?")


As diversas recolhas fotográficas desempenharam um papel preponderante no entendimento da importância da desconstrução, mas logo revelaram-se insuficientes para cumprir o que ansiávamos, pelo que recorremos ao Google Imagens.


Para refletir os problemas sociais e toda a sensibilização face a questões prementes e de grande valor social – ignorância, egoísmo, materialismo, discriminação, racismo, terrorismo, guerra, entre outros – de uma realidade atemporal, priorizarmos como tonalidades para os dois contornos básicos da comunicação visual – o contorno quadrado e o contorno circular – três (3) cores que simbolizam essa mesma realidade: a cor preta, por designar ambientes carregados, a morte, o isolamento, a solidão e o medo; a cor branca, por remeter-nos, pelo seu imediatismo, para a paz e para a frieza e a cor vermelha, por excelência cor da paixão, de sangue e por estimular reações agressivas.

Conscientes de que as primeiras experiências que, de seguida, apresentamos, revelar-se-iam demasiado figurativas, tivemos de recorrer a novos ensaios. Atente-se que, por serem imagens de experiências, não figuram as medidas requeridas. 








No que diz respeito ao formato quadrado, foi consensual a representação convencional de um coração humano, percecionado através da cor preta, principalmente, e da cor vermelha. No que diz respeito ao processo e à técnica de trabalho, só foi possível conferir a textura e os tons que a composição ganhou texturizando-a através das funcionalidades do lllustrator, que possui toneladas de texturas embutidas no menu Efeitos.

Falando do formato circular, é possível informar que estamos perante uma composição gráfica visivelmente diferente do formato quadrado, planeada propositadamente para ser desconcertante a desconexão visual entre os dois formatos, sendo a presença das cores, vermelha e preta, o único elo que é, por associação, comum. A cor preta, aqui, está associada ao mundo escuro, mergulhado no caos social, onde imperam sentimentos nefastos como o racismo, o extremismo ou o terrorismo. O formato circular é ainda composto por figuras, algumas triangulares, de contorno vermelho que aspiram instabilidade, ação, tensão. Em suma: ausência de segurança. Estas figuras visualmente lembram-nos estilhaços, no contexto consequências inerentes da falta de amor.

Pretendeu-se, assim, dar ênfase, ou seja, destacar os triângulos com contornos encarnados do fundo negro uniforme e sobressair a metaforização de individualidade, de desconexão e de liberdade, que aspiramos na nossa criação.

Em ambos os contornos privilegiamos a espontaneidade, a falta de planeamento. Enfrentamos algumas dificuldades porque nem sempre entendemos o conceito de composição.

Não obstante, demos asas às nossas mentes criativas porque um “designer usa a criatividade” (MUNARI, Bruno / Design e Comunicação Visual / Ed. 70, Lisboa, 1991), mas procuramos responder a uma necessidade, quase imperiosa, de cumprir os objetivos exarados que passam, por quem observa, por identificar e distinguir os elementos básicos da comunicação visual e por utilizar os elementos básicos de comunicação visual e técnicas de comunicação visual como meios de expressão.

Cientes de que "na criação de mensagens visuais, o significado não se encontra apenas nos efeitos cumulativos da disposição dos elementos básicos, mas também no mecanismo perceptivo universalmente compartilhado pelo organismo humano" (Donis A. Dondis), pensamos que o nosso objetivo foi bem conseguido. 

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